domingo, 26 de setembro de 2010

PERGUNTE À ADÉLIA

                                                                Foto: Graça Freire (2010)


        Como ser simplesmente feliz?
        Se nem o vento confia no ar
        se um menino não confia em outro menino
        se lebre e lobo não comem da mesma relva?               

        Posso escrever o que sinto?            
        A minha ousadia tem testemunhado
        os versos que penso cantar.
        Por certo, mesmo assim escrevi:
        Faço o que quero com a língua...
        Como me esforço para acreditar que é possível!

        Mulher se expõe,
        sai de casa em busca de guarida.
        Homem se esconde na casa,
        vestindo sua  carapaça falida.
        Quero ser singela também.
        Depressa, responda antes que seja tarde e os anjos
        digam amém!    
        

     
COM LICENÇA POÉTICA
                                                
                         Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
Esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
Sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
Ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro sem dor.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura).
Minha tristeza não tem pedigree,
Já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.











2 comentários:

  1. estava em outras terras, tempo curto, pouco tempo para andar a pé.
    mas devo dizer que agradeço a visita. volte sempre. também virei.
    de lá, outros chegarão aqui. v.

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  2. Que bom que você nos encontrou no pouco tempo de caminhada.
    Estaremos, aqui, a espera de uma nova visita.

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