O Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci
O BICHO
Manuel
Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Na era um rato.
O bicho, meu Deus,
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Na era um rato.
O bicho, meu Deus,
era um homem.
Caricaturas - Leonardo da Vinci
O MACACO
Arnaldo Antunes
O macaco se parece com o homem
A macaca parece mulher
Algumas pessoas se parecem
Outras pessoas se parecem com outras
As macacas de auditório são meninas
As crianças parecem micos
Os papagaios falam o que pessoas falam
Mas não parecem pessoas
Para os cegos os papagaios parecem pessoas
O homem veio do macaco
Mas antes o macaco veio do cavalo
E o cavalo veio do gato
Então o homem veio do gato
O gato veio do coelho
Que veio do sapo
Que veio do lagarto
Então o homem veio do lagarto
O lagarto veio da borboleta
Que veio do pássaro
Que veio do peixe
Pessoas se parecem com peixes
Quando nadam
Pessoas se parecem com peixes
Quando olham o vazio
Pessoas se parecem com peixes
Quando ainda não nasceram
Pessoas se parecem com peixes
Quando fazem bolas de chiclete
Macacos desaparecem
Peixes parecem peixes
Micróbios não aparecem
Todos se parecem
Pois se diferem
A macaca parece mulher
Algumas pessoas se parecem
Outras pessoas se parecem com outras
As macacas de auditório são meninas
As crianças parecem micos
Os papagaios falam o que pessoas falam
Mas não parecem pessoas
Para os cegos os papagaios parecem pessoas
O homem veio do macaco
Mas antes o macaco veio do cavalo
E o cavalo veio do gato
Então o homem veio do gato
O gato veio do coelho
Que veio do sapo
Que veio do lagarto
Então o homem veio do lagarto
O lagarto veio da borboleta
Que veio do pássaro
Que veio do peixe
Pessoas se parecem com peixes
Quando nadam
Pessoas se parecem com peixes
Quando olham o vazio
Pessoas se parecem com peixes
Quando ainda não nasceram
Pessoas se parecem com peixes
Quando fazem bolas de chiclete
Macacos desaparecem
Peixes parecem peixes
Micróbios não aparecem
Todos se parecem
Pois se diferem
Em seu 'blog', minha amiga, só biscoitos finos. Eta passeio catártico o nosso! Um beijo imenso. Obrigado por Bandeira e Antunes.
ResponderExcluirFábio,
ExcluirO bom de ter um espaço como este é que pode-se dizer o que se quer pela língua alheia, da melhor maneira que eles sabem e nós não conseguimos. Ainda que tarde, mas felizmente, a arte de Da Vinci que me levou a conhecê-lo como pessoa e me supreendi ainda mais. Ele era o Cara, o Bicho! Bandeira e Antunes, cada qual no seu canto, não deixam por menos.
Obrigada por entender minhas entrelinhas e meus recados.
Graça, querida, lembra-se de "Certas canções"? "Certas canções que ouço / cabem tão dentro de mim / que perguntar carece: / como não fui eu que fiz?" Sempre cito tais versos para os alunos. A "língua alheia" diz lindamente o que queremos e, às vezes, não conseguimos, não é messmo? Na ARTE, existe o que Ariane Mnouchkine, diretora do "Théâtre du Soleil", chama de “íntimo universal”. É a tal da identificação... Um beijo, amiga.
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