domingo, 9 de dezembro de 2012

A CASA DOS SONHOS

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A CASA DO OSCAR

                                                                                     
A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. 

Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.

Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquale casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. 

Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.


Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar. 
                                                                          (Chico Buarque)

                                                    

Lições de Arquitetura
                              Para Oscar Niemeyer

No ombro do planeta
(em Caracas)
Oscar depositou
para sempre
uma ave uma flor
(ele não faz de pedra
nossas casas:
faz de asas)
No coração de Argel sofrida
fez aterrizar uma tarde
uma nave estelar
e linda
como ainda há de ser a vida
(com seu traço futuro
Oscar nos ensina
que o sonho é popular)
Nos ensina a sonhar
mesmo se lidamos
com matéria dura:
o ferro o cimento a fome
da humana a arquitetura
nos ensina a viver
no que ele transfigura:
no açúcar da pedra
na argila da aurora
na pluma da neve
na alvura do novo
Oscar nos ensina
que a beleza é leve

(Ferreira Gullar Toda Poesia/ Na vertigem do dia – 
Editora José Olympio)







4 comentários:

  1. Graça, minha amiga, que saudades de ver algo novo em seu 'blog'. Obrigado por tudo: Niemeyer, Buarque, Veloso, Gullar. Meu melhor beijo, amiga.
    Fábio

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  2. Um 'abraçaço', um beijaço, um carinhaço, amiga.
    Tenho um "amorzaço" por você.
    Fábio

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  4. "A vida é um sopro", dizia o "poeta das curvas". No caso dele, sua passagem foi um vendaval! Oscar agora é um capítulo a parte na História.

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