domingo, 6 de novembro de 2011

3 de Novembro - MEMÓRIAS, LEMBRANÇAS E PROSAPOPEIA

         Centro Histórico de João Pessoa-PB  (Foto: Pedro Rossi)

 O ETERNO BRILHO DE UMA MEMÓRIA 
SEM LEMBRANÇAS

 (Por Pedro Rossi)


Quando planejamos viagens, é comum acrescentarmos ao roteiro passeios a lugares históricos. Um dos motivos é porque sabemos que a experiência de sentir de perto cada pedra, ali assentada, conta muito mais da vida de uma cidade do que qualquer livro de História. Absorvemos, de forma mais rápida, uma cultura diferente da nossa. Aí reside uma das principais e mais antigas inquietudes do ser humano: a busca pelo conhecimento. Entretanto, se não sabemos nossa história, dificilmente teremos como preservar a memória e, certamente, ninguém jamais saberá da nossa existência.
A Europa possui uma tradição consolidada a respeito da preservação da memória. Ainda que não seja tão antiga, e nisso podemos nos remeter ao século XIX, a preocupação com a proteção do Patrimônio Cultural naqueles países é levada a sério. A população, de uma maneira geral, tem a consciência de abrir portas e gerar caminhos para o desenvolvimento econômico por meio do turismo. Sabem, também, que suas antigas muralhas, monumentos e coleções artísticas possuem um significado incomensurável, pois fazem parte do patrimônio coletivo de sua nação. Nele reside a memória de seus antepassados.
O destino turístico escolhido pela maioria das pessoas que procuram enriquecimento cultural é a França. Não por menos. O turista pode vivenciar um dos mais antigos aglomerados de monumentos arquitetônicos de toda a Europa.  Sem contar com o acervo dos museus, que reúnem obras de todas as épocas históricas e de todas as partes do mundo. Não podemos esquecer a imagem simbolizada a partir da produção intelectual das primeiras décadas do século XX, quando, em Paris, reinava um cenário cultural efervescente. É a reunião de uma herança patrimonial sem tamanho! No entanto, devemos levar em consideração que essa França existe, tão somente, porque nela vive o que há em grande parte dos países europeus: uma sociedade que valoriza a cultura e que, preservando a memória e legando sua história, faz do Patrimônio Cultural o seu principal cartão de visitas.
No Brasil, o costume de se preservar a memória é mais recente. Somos um país cuja organização civil é relativamente nova e ainda existe um mito de que a nossa história não é rica o suficiente. O que é um grande erro! Nosso legado cultural vem desde muito antes do “descobrimento”. Além do mais, a diversidade étnica do povo brasileiro é a maior qualidade que se pode ter para a profusão de uma cultura tão plural. Nosso Patrimônio Cultural Imaterial – festejos, expressões artísticas, manifestações religiosas, técnicas gastronômicas – é tão (ou mais) rico em referencias quanto qualquer país do Velho Mundo. Além do vasto legado patrimonial edificado que o Brasil possui em seus centros, precisamos observar nossos costumes e tradições. Tão diversos nas formas de se expressar e, ao mesmo tempo, únicos no mundo, também são eles parte da nossa cultura. É importante que sejam preservados tanto quanto um monumento arquitetônico ou um Centro Histórico de uma cidade.
Ainda assim, por aqui, as leis protecionistas são, de certa forma, uma novidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foi criado há pouco mais de setenta anos. Os paraibanos estão à frente da preservação do seu Patrimônio Cultural desde o começo da década de 1970. Agora em 2011, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP) completa quarenta anos de atividades. Poucos sabem, mas o Centro Histórico da Cidade de João Pessoa é tombado como Patrimônio Cultural, em nível nacional e estadual, e possui uma das trajetórias de urbanização mais antigas do Brasil. O Centro Histórico de Campina Grande também é protegido pelo IPHAEP e detêm um significativo acervo arquitetônico Art Déco.
No entanto, apesar da existência dos órgãos que controlam legalmente o Patrimônio Cultural, somente a sociedade, de fato, poderá dizer o que é importante e o que é digno de se preservar. Só protegemos aquilo que reconhecemos como nosso. Apenas dizemos que algo é memorável quando nos identificamos na trajetória da história desse objeto. É de extrema importância que sejamos conscientes de que o passado não está morto; ele vive em nós e permanecerá no futuro. Um futuro que, juntos, estamos ajudando a construir.
Devemos procurar conhecer nossa cultura, valorizar o que fazemos e investir no reconhecimento de nossos costumes. Somente assim, por meio de um processe de (re)descobrimento, é que seremos fiéis a nossa própria história. Seremos dignos de nossa memória. Do contrário, estaremos fadados a viver do brilho eterno de uma memória sem lembranças.

         

7 comentários:

  1. Esse menino... Menino? Qual nada, cresceu pra caramba. Não nega de onde veio.

    Parabéns, Peu! Pelo aniversário, mas também pelo texto, porque sei é de dentro do peito, é real.

    Beijos,
    Nil.

    ResponderExcluir
  2. Que bom constaar que um menino creceu e "deu pra gente".
    Esta é uma expressão sobre a qual estava discutindo com amigos ainda outro dia.
    É uma expressão antiga, mas muito pertinente nos nossos dias.
    Muito jovens têm escolhido o caminho inverso, o caminho sem volta.
    Que bom que o nosso Peu escolheu o caminho da preservação, não só dos monumentos históricos, mas a própria e, por extensão, daqueles que o amam.
    Parabéns Pedro, que vi tão pequeno e nunca mais encontrei.
    Que bom sabê-lo assim, inteligente, dono do seu nariz, saudável.
    Beijo,
    Tia Vitória

    ResponderExcluir
  3. Amigas, queridas,

    Obrigada, indiretamente agradeço os elogios e fico muito contente ao saber que, Pedro, Pedrinho, como Tulipa Ruiz canta, "é um cara do bem"!
    Beijos,
    Graça

    ResponderExcluir
  4. Esse Pedrinho é um danado. Contente foi ler isso aí no papel impresso, achando que esse texto não poderia estar em casa melhor. Isso porque eu não conhecia o poesiaeprosopopeia... Estas palavras e fotos encontram aqui um encaixe perfeito! Parabéns pra Pedro, que ainda há-de nos encantar com muitas surpresas mais :D

    Obrigado pela passada lá no versorragia, Graça. Estou muito feliz pelo prêmio. Fica ligada nestes concursos literários, que as páginas anseiam pelo que tens a dizer!

    ResponderExcluir
  5. 'De nada', Gustavo, nossa achei incrível o seu blog, viu? Achei que tem um certo parentesco com o P&P.
    Vou ficar esperando pelas dicas e procurar por elas também.
    beijo,

    ResponderExcluir
  6. Graça, querida, Pedro é extremamente talentoso. O texto é lindo! A foto também. Parabéns pelo "rebento", amiga! Um filho assim dá um baita orgulho, não dá? Beijão, beijão, Fábio Brito

    ResponderExcluir
  7. Graça, querida, estou sentindo sua falta...
    Viajar "por este" BLOG é maravilhoso...
    Beijão,
    Fábio Brito

    ResponderExcluir