segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DE MÚSICA E LIVROS

De música e livros (Foto:Rômulo Fialdini)

Todas as modificações pelas quais passaram as sociedades humanas seriam capazes de modificar as formas pelas quais as pessoas criam e mantêm relações sociais? Quais as implicações disso para o indivíduo e para a sociedade? Os mesmos aspectos das relações sociais no presencial podem ser considerados para o virtual?
Com tantas perguntas, ninguém duvidará do muito a aprender sobre as conversações online e o que representam para as relações sociais.
Deixando de lado tantas interrogações, quem vai falar é o Professor Fernando Nogueira da Costa, que aceitou o convite e nos dá o prazer de colaborar com o Poesia e Prosapopeia sobre internet e as redes sociais em um artigo...
Bem, prefiro deixar as impressões para os leitores.

De gosto apurado para a música e para os livros que coloca na estante, não posso deixar de comentar  que, com a mesma propriedade com que propõe aos alunos um trabalho acadêmico em Microeconomia, me fez entender sobre o tiro que a guerra cambial acertou nos Emergentes (eu procurava pela “bolha imobiliária” nos E.U.A.) e, ainda, sobra sensibilidade quando se indigna contra o preconceito e a discriminação e coloca para tocar Dave Brubeck.
Na companhia de um economista, gente, feito o Fernando, não existe Solidão na Rede.
Passo-lhe a ponta do fio, Professor. Estamos todos atentos.


SOLIDÃO NA REDE 
                                                   
                                       Fernando Nogueira da Costa*

 
Você na rede, sozinho, balançando daqui pra lá, navegar é preciso... Lê o Dominique Wolton, 63 anos [tô novo…]. Ele é sociólogo da comunicação e diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (Paris). Eu, porra nenhuma...
Para ele, “a internet não serve para a constituição da democracia” [?!]. “Só funciona para formar comunidades”, em que todos partilham interesses comuns, “e não sociedades”, onde é preciso conviver com as diferenças. [Meia verdade. Parcialmente verdade. Meia mentira. Mais ou menos. Menos, menos.]
Diz ele: “Faço parte de uma minoria que não é fascinada por ela [a internet. Também, se tivesse menos de 63... Talvez não tivesse medo de experimentar. Clicar e testar. Tentativa e erro. Não estraga...]. Claro, é formidável para a comunicação entre pessoas e grupos que se interessam pela mesma coisa e, do ponto de vista pessoal, é melhor do que o rádio, a TV ou o jornal. Mas, do ponto de vista da coesão social, é uma forma de comunicação muito frágil. A grandeza da imprensa, do rádio e da TV é justamente a de fazer a ligação entre meios sociais que são fundamentalmente diferentes. Nesse sentido, a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário”.
Ele reconhece que “as redes sociais retomam questão social muita antiga, que é a de procurar pessoas, amigos, amor”. Diz que “são progresso técnico, sem dúvida [Se dissesse o contrário, seria uma besta, sem dúvida.], mas a comunicação humana não é algo tão simples [Quem disse que é?!]”.
Por que? “Porque em algum momento será preciso que as pessoas se encontrem fisicamente – e aí reside toda a grandeza e dificuldade da comunicação para o ser humano [Grandioso pacas. Nobre. Real. Pena que em vez em quando me sinto misantropo. Sofro então de aversão a esse contato pessoal com o ser humano. Quem? O vizinho da frente que tanto grita com os filhos quanto late com seus cachorros. A vizinha histérica ao lado que atormenta o marido aos berros. Vamos adiante.]
Então, o entrevistador (Marcos Flamínio Soares da Folha de S. Paulo [PIG!], 09/11/10), lhe pergunta: “a solidão é um risco nessas redes?”
Responde: “Sem dúvida: a ‘solidão interativa’ [Ele é francês! Nada como francês para inventar termos novos para velhas idéias! Adoro eles! Superficiais, simples em conteúdo, complexos em forma, bem diferentes dos americanos pragmáticos e objetivos... e bem mais interessantes, também, né? Só não servem quando temos pressa ou objetivo.]. Podemos passar horas, dias na internet e sermos incapazes de ter uma verdadeira relação humana com quer que seja [Presencial, sim. Virtual, não.]”.
Culmina dizendo que isso tem a ver com o conceito que ele criou: o de “sociedade individualista de massa” [Eu não disse? Os franceses são bons nisso...], “porque na comunicação ocidental procuramos duas coisas inteiramente contraditórias: a liberdade individual – modelo herdado do século 18 [A liberté, egalité, fraternité de lá, porque aqui nós estávamos ainda na escravidão, desigualdade, chibata característicos de um fazendão colonial, onde havia a exploração do homem pelo homem... Com a chegada do capitalismo, inverteu.] – e a igualdade por meio da inserção na sociedade de massa – que é o modelo do socialismo [Inverteu novamente.].
Continua o discurso. “Usamos a internet porque ela é a liberdade individual [bom isso]. Na internet, todo mundo tem o direito de dar sua opinião, mas emitir uma opinião não significa comunicar-se [Não? Comunica, grita, esperneia. Se ninguém liga, pouco importa, desabafou.]. Porque, se a expressão é uma fase da comunicação, a outra é o retorno por parte de um receptor [E os comentários? E o e-mail? E a carta do leitor?] e a negociação que implica – e isso toma tempo! [Menos, menos, não é tanto assim.] Há um fascínio pela rapidez da internet e por sua falta de controle [Isto é verdade]. Mas essa falta de controle é demagógica [Epa, demagógica é a mãe!], porque a democracia não é a ausência de leis, mas a existência de leis utilizadas por todos [Sempre se pode deletar, não? Zapping, muda de canal, de site, de blog, deixe ele falando sozinho.]”.
Para o intelectual francês, “o Google está se tornando a primeira indústria do conhecimento [Que isso?! Imagine...], concentrando de forma gigantesca a informação e o saber [De merda. Quem tiver o mínimo de sensibilidade e direção, saberá que o buraco é mais embaixo.], o que é um perigo. Se um grupo de mídia quisesse concentrar toda a distribuição de informação, alguém diria: ‘Atenção, monopólio!’. Mas não se faz isso em relação à internet, tamanho é o fascínio pela técnica na sociedade atual [Que besteira! É justamente o contrário. A concorrência permite acesso via outros canais!]”.
Última pergunta do entrevistador: “O papel está condenado?” [Papel físico, isto é, jornal, revista, livro...]. O intelectual responde de maneira equivocada, confundindo o meio com o fim: “Ao contrário! Porque internet é rapidez [Instrumento.], livros e jornais são lentidão e legitimidade, informação organizada [Objetivo-meta.]. A abundância de informações não suprime a questão prévia de que educação é formação [Verdade, se não fosse, eu perderia meu emprego de professor...]”.





Um comentário:

  1. ótimo texto!
    *porque na comunicação ocidental procuramos duas coisas inteiramente contraditórias: liberdade individual & igualdade por meio da inserção na sociedade de massa*, basta entrar no metrô pra ver bem o efeito disso: um movimento fora do esperado, por mínimo que seja, é motivo pra um "abre a porteira e deixa tudo sair"... um simples esbarrão pode levar a trocas de acusações do tipo *racista*, *antisemita*... o cúmulo do "esse é meu espaço e você invadiu!". a outrora cantada e decantada "liberdade, igualdade, fraternidade" foi equacionada em Tolerância Zero.

    boa semana pr'ocês! :)

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