quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PATRÍCIA PAGU PAIXÃO

Tenho tempo? O ano de 2010 não acabou, mas é preciso ser rápida.
Em junho deste ano teve início a comemoração do centenário de Pagu, portanto perda de tempo e atraso não combina quando o assunto é Patrícia Rehder Galvão.O que rima com Pagu é paixão, é olhar para frente e para cima, como ela dizia: 
“Eu quero ir bem alto, bem alto... É que do outro lado do muro tem uma coisa que eu quero espiar”. 
Lendo esta frase imagino como voava alto uma mulher  além de sua época, de linguagem desaforada, ideias e atitudes demolidoras de convenções e, inquieta, causava uma surpresa atrás da outra.
Que mulher era aquela Pagu? Escritora e Jornalista multiplicava e espalhava seu pensamento em livros, vários jornais, peças de teatro, crítica literária e teatral, fervilhava na política e promovia a cultura nas rodas de sociedade,em companhia dos intelectuais que a adotaram como mascote do Movimento Modernista. Sem obediência a nenhuma ordem deixou de lado a sinhazinha brasileira dos achaques e chiliques. Ao invés de mordidinhas nos lábios, pintava a boca de um tom vermelho tão vivo como ela própria vivia, e rodava a saia de melindrosa ao som do Charleston.  Com tudo isso, e tão só 19 anos, deixava boquiaberta a quatrocentona sociedade paulistana, estupefata ao encarar os modernistas e a sua paulicéia desvairada. Pagu rompia barreiras e tentava desfazer o mito criado em torno de si como a musa do modernismo de comportamento extravagante e insolente.
Quem foi essa mulher que por último pediu: “Abram as janelas, desabotoem-me a blusa, quero respirar”



POEMAS


(Fósforos de segurança)


Fósforos de segurança
Indústrias tais
Fatais.
Isso veio hoje numa pequena caixa
Que achei demasiado cretina
Porque além de toda essa história
De São Paulo – Brasil
Dava indicações do nome da fábrica.
Que eu não vou dizer
Porque afinal o meu mister não é dizer
Nome de indústria
Que não gosto nem um pouquinho
De publicidade
A não ser que
Isso tudo venha com um nome de família
Instituição abalizada
Que atrapalha a vida de quem nada quer saber
Com ela.
Ela, ela, ela.

Hoje me falaram em virtude
Tudo muito rito, muito rígido
Com coisinhas assim mais ou menos
Sentimentais.

Tranças faziam balanças
Nas grandes trepadeiras
Estávamos todos por conta de.

Nascinaturos espalhavam moedinhas
Evidentemente estavam bricando
Pois evidentemente, nos tempos atuais
Quem espalha moedas
Ou é louco, ou é porque
está brincando mesmo.                                       
O que irritou foi o porque


Canal

Nada mais sou que um canal
Seria verde se fosse o caso
Mas estão mortas todas as esperanças
Sou um canal
Sabem vocês o que é ser um canal?
Apenas um canal?


Evidentemente um canal tem as suas nervuras
As suas nebulosidades
As suas algas
Nereidazinhas verdes, às vezes amarelas
Mas, por favor
Não pensem que estou pretendendo falar
Em bandeiras
Isso não


Gosto de bandeiras alastradas ao vento
Bandeiras de navio
As ruas são as mesmas.
O asfalto com os mesmos buracos,
Os inferninhos acesos,
O que está acontecendo?
É verdade que está ventando noroeste,
Há garotos nos bares
Há, não sei mais o que há.
Digamos que seja a lua nova
Que seja esta plantinha voacejando na minha frente.
Lembranças dos meus amigos que morreram
Lembranças de todas as coisas ocorridas
Há coisas no ar…
Digamos que seja a lua nova
Iluminando o canal
Seria verde se fosse o caso
Mas estão mortas todas as esperanças
Sou um canal.


Um peixe

Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada.





LIVROS

  • Parque Industrial – Edição particular – 1933
  • A Famosa Revista – Americ-Edit – 1945
  • Verdade e Liberdade – Edição da autora – 1950
  • Safra Macabra – José Olympio Editora – 1998
  • Croquis de Pagu (org. Lúcia Maria Teixeira Furlani) – Editora Unisanta – 2004
  • Paixão Pagu – Uma autobiografia precoce de Patrícia Galvão – Editora Agir – 2005










Imagens: Google Images







4 comentários:

  1. Representei essa grande escritora em um tiatro da escola td mundo amoo

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  2. Não sei, só me impressiona, Pagu, Patrícia Galvão, Mara Lobo. Essa mulher que queria olhar além do muro, fora de qualquer contexto, olhar...Ainda sem saber o porquê, lembra-me Clarice e o "Saber qual é o É das coisas". Não conheço o seu trabalho, só o Augusto de Campos dando entrevista na TV.Lin de Varga

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