quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Foto: Pedro Rossi

 OS POETAS E A MORTE

                  Colaboração de Fábio Brito

"Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia."


"Que bom é suar na tarde e gritar: mãe, cê tá aí, mãe? A morte veio e vem, mas se deve alçar os caixões e com passo de marcha carregá-los, chorando sim, mas como quem leva espigas para o campo." (Adélia Prado)

"Somente onde há sepulturas pode haver ressurreições". (Nietsche)
 
"A MORTE é a única conselheira sábia que temos. Sempre que você sentir, como sempre acontece, que tudo está errado e que você está ao ponto de ser aniquilado, volte-se para a sua morte e pergunte-lhe se assim é. Sua morte lhe dirá que você está errado. Nada realmente importa, a não ser o seu toque. Sua morte lhe dirá: Ainda não o toquei."
(D. Juan, o bruxo.)

"Há uma estranha, devoradora felicidade quando agimos com a total convicção de que, qualquer que seja a coisa que estamos fazendo, esta pode muito bem ser a nossa última batalha sobre a terra. Pois somos apenas a casca e a folha. A grande morte que está em todos nós é a fruta em torno da qual tudo gira."  (Rainer Maria Rilke)
"Quem nos fascinou assim, para termos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?"
(Rainer Maria Rilke)
"Quem nos fascinou assim, para termos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?"
(Rainer Maria Rilke)

"Ao matar a morte, a religião nos tira a vida: vivemos morrendo. A eternidade despovoa o instante. Porque vida e morte são inseparáveis. Tirando-nos a morte, a religião nos tira a vida. Em nome da vida eterna, a religião afirma a morte desta vida."
(Octávio Paz)

"Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada, ela virá me abrir a porta como uma velha amante sem saber que é a minha mais nova namorada." 
(Vinícius de Moraes)

"... antes que se parta a corrente de prata e se quebre a taça de ouro, e despedace o cântaro junto à fonte..."  (Eclesiastes 11.6)

"Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."
(Manoel Bandeira)

"As nuvens que se ajuntam ao redor do sol que se põe ganham suas cores solenes de olhos que atentamente vigiam a mortalidade dos homens..."
(William Wordsworth)

"Fico tão longe como a estrela.
Pergunto se este mundo existe,
e se, depois que se navega,
a algum lugar enfim se chega...
-O que será, talvez, mais triste,
Nem barca nem gaivota:
somente sobre-humanas companhias..."
(Cecília Meireles)
"O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir...
"Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também."
(Ricardo Reis)

(Coluna do Rubem Alves da FOLHA, 02/11/2010)

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