quarta-feira, 24 de novembro de 2010

APRESENTANDO MEU AMIGO

     
                      LA FIRA DE BELLCAIRE - Encants Vells - Barcelona
             
         Quando resolvi  criar o P&P convidei o Fábio para me fazer companhia e que me respondeu em "cima da bucha": Com você vou até pro inferno! Mal sabia ele que ao invés de me deixar mais confiante, aumentava a minha responsabilidade frente a ele e à ideia do P&P.
         O Fábio é um homem das Letras. Professor, entusiasta da arte da escrita desperta, não apenas nos alunos, em todos, o prazer pela leitura. Com sua sensibilidade e como se lesse meus pensamentos, assistisse aos meus momentos e advinhasse o que  eu precisasse ouvir/ler, sempre me presenteia com uma poesia, um novo título, uma música, ou  uma letra de música. Esses muitos presentes, não têm preço, têm marca, a que nos tornou parceiros, a marca de nossa amizade.
           Nada de inferno. Quando o Fábio nos traz suas colaborações vamos direto ao paraíso.
       
É assim que ele se apresenta e não poderia ser diferente.


"(...) Multipliquei-me, para me sentir
 Para me sentir, precisei sentir tudo,
 Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
 Despi-me, entreguei-me,
 E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente."(...)"
           

(Fragmento de 'Passagem das horas', de Álvaro de Campos, heterônimo e Fernando Pessoa)

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 "(...) Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeirmente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. (...) É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - 

e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, 
e então o castigo é amar um mundo que não é ele. (...)"

          (Fragmento de 'Perdoando Deus', de Clarice Lispector)

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Fui morena e magrinha como qualquer polinésia,
e comia mamão, e mirava a flor da goiaba.
E as lagartixas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras,
e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam.

Isso era num lugar de sol e nuvens brancas,
onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas...
O eco, burlão, de pedra em pedra ia saltando,
entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.

Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho,
e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas,
que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas,
pois a vida completa e bela e terna ali já estava.

Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosas!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurrantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes!  - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

("Desenho" de Cecília Meireles)
                                   

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Hoje, o presente é seu.

Um comentário:

  1. Graça, minha amiga mais que querida, estou aqui, bobo e chorando com tanto 'trem' bonito, vu? Queria mesmo era dar um abraço e um beijo em você. Aguarde-me. Fábio

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