segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O BEM QUE HÁ NUM VERSO TRISTE



                                                         Foto: Pedro Rossi (Antuérpia)


A canção de Manuel Bandeira
Ribeiro Couto


                                   Colaboração de Fábio Brito


Já fui sacudido, forte,
De bom aspecto, sadio,
Como os rapazes do esporte.
Hoje sou lívido e esguio.
Quem me vê pensa na morte.

O meu mal é um mal antigo.
Aos dezoito anos de idade
Começou a andar comigo.
E esta sensibilidade
Põe minha vida em perigo!

Já sofri a dor secreta
De não ser ágil e vivo.
Mas, enfim, eu sou poeta.
Tenho nervos de emotivo
E não músculos de atleta.

As truculências da luta!
Para estas mãos não existe
O encanto da força bruta.
... Nada como um verso triste
― Verso, lágrima impoluta...

Poemetos de ternura e melancolia (1924). Roteiro da poesia brasileira: Pré-modernismo. Seleção Alexei Bueno. SP: Global, 2007, p.171.

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