domingo, 28 de novembro de 2010

PROSAPOPEIA, POESIA, CARTAS

                                                                                         (Foto: Pedro Rossi - Londres)
TARDANÇA

Por Fábio Brito


Certa vez, ouvi isto: “Espera-se muito neste país”. Espera-se mesmo! Por tudo e em todos os lugares. E quem espera fica, não raro, aborrecido, não é mesmo? Aborrecido é pouco. Há pessoas que vão além do aborrecimento: chegam às brigas, aos xingamentos, às gritarias. Sem razão? Talvez não.
Já repararam, por exemplo, que, quando algo (ou alguém) entra no circuito do consumo, o tempo de espera aumenta consideravelmente? Nessa lista, estão restaurantes, lojas e até profissionais de saúde, como médicos. É... os médicos, de uns tempos ‘pra’ cá, também fazem parte disso que classifico como “circuito do consumo”. Quando eles estão “na moda”, agendar uma consulta é tarefa das mais difíceis. Só com muita (mas muita mesmo!) antecedência. Porque estão “na moda”, para consultá-los, as pessoas suportam esperar uma encarnação.  
Restaurante também não fica de fora desse rolo. Nos grandes centros, principalmente, se algum deles ‘cair nas graças’ do povo que se diz chique, cuidado! Haverá filas. Se, em determinados dias, todas as mesas estiverem ocupadas, há pessoas que, mesmo assim, suportarão esperar um bom tempo até que alguma seja desocupada. Nada chique isso, não? Muitos não pensam assim. E ficam lá, na fila, com cara de nada e fazendo vento.
Pior do que esperar o dia da consulta ou a mesa no restaurante talvez seja esperar a boa vontade das pessoas que prestarão o serviço a quem espera. O constrangimento, que deveria ser de quem faz alguém esperar, acaba sendo de quem será atendido. No entanto, há lados delicados – e pouco compreendidos - que envolvem essa questão da espera em certos lugares. Em algumas repartições, por exemplo, a culpa (chamemos assim) pela espera não deveria ser atribuída ao funcionário/atendente, mas à instituição. Difícil entender isso? Não! Basta comparar o número de pessoas que atendem com o das que precisam ser atendidas. É brincadeira!
A situação se complica, então, quando, nesse tipo de situação, a ira dos que esperam (e não lhes tiro a razão) recai sobre o atendente, que, em muitos casos, também é vítima (só não o é quando faz ‘corpo mole’ e finge que trabalha). Vítima de quê? Simples também. De um sistema que visa tão somente ao lucro, em detrimento, é claro, da paciência e da saúde alheias. Ninguém merece (ninguém mesmo!) ser atendido em instituições que deveriam ter, no mínimo, o dobro do número de empregados que têm.
Nossa tradição judaico-cristã nos ensinou a paciência... porque dos pacientes será o céu. Que céu? O dos conformados, é óbvio! O dos que não gritam e reivindicam seus direitos. Desconfio de que o que chamam de paciência é, aqui, sinônimo de resignação e apatia. Muita ‘coisa’ torta reina e impera por aí porque é com os conformados que se constroem mundos. E não são mundos de heróis, mas de gente passiva (não confundir com pacífica) e alienada. E gente passiva, como sabemos, acostuma-se a tudo, principalmente a viver em um mundo errado. Pior de tudo: acostuma-se a achar que o errado é o certo e vice-versa (sem maniqueísmo!). Não grita, não protesta. Resigna-se. Protestemos, então, mas...

Cá entre nós: e por falar em protesto, continuo rezando pela cartilha de Cazuza, nosso talentoso poeta, que, em parceria com Laura Finochiaro, presenteou-nos com “Tudo é amor”: “(...) Mesmo se for pra transformar / Num inferno um céu conformista / Mesmo se for pra guerrear / Escolha as armas mais bonitas (...)”. Pois é, é vital que não nos conformemos, mas com delicadeza, com fineza, com ‘armas bonitas’.
Não há como negar: esperar é um desrespeito. Esperar sentindo dor, então, é desesperador. A revolta, a raiva, os gritos... tudo é mais do que aceitável quando há dor envolvida. Neste instante mesmo, num pronto-socorro de hospital, escuto os brados de uma moça, grávida, que espera há muitas horas para ser atendida. Desrespeito é pouco!
Quando esperamos, alguma vantagem, mesmo que remota, deve existir, não deve? Agora, por exemplo, enquanto espero que todo o líquido de um frasco de soro chegue ao fim, escrevo este texto. Pelo menos por isso (e só por isso!) está valendo o tempo de espera. Talvez não, pois estou com fome. Muita fome!  

 

CARTAS, POESIA, PROSAPOPEIA


De  Madame du Deffand a  Voltaire

 Paris, 28 de novembro de 1773.


      Sois o mais surpreendente dos mortais, Mas por que mortal? Jamais morrereis. Tendes apenas trinta anos; tereis para sempre essa idade.
       Vossa Tactique encantou-me; provocou esse efeito em todos; existem mil cópias dela; e a primeira coisa que todos dizem é: Lestes a Tática do senhor Voltaire? Haverá algo mais encantador?
       Encontrei uma única pessoa (e essa pessoa é um belíssimo espírito, íntima do senhor Thomas)que teme uma ofensa ao rei da Prússia. Tal coisa não seria inefável?
       Devo a vós infinitos agradecimentos por vossa atenção; continuai; enviai-me todos os vossos pedregulhos; são mais preciosos do que todos os vossos pedregulhos; são mais preciosos do que todos os diamantes que se recolheu nos tempos atuais. Sim, protesto, meu caro Voltaire, admiro apenas a vós, e não posso admirar a outros.
         Disse a madame de La Vallière que me faláveis dela, que ainda gostáveis dela:losonjeou-se além de qualquer expressão; encarregou-me de vos dizer isso e que possui dois de vossos bustos sobre sua lareira: compra todos os que encontra.
Quando me escreverdes, que haja um artigo para ela que eu lhe possa mostrar; ela vai melhor. O que pensais da morte do senhor Chauvelin? É uma perda para todos; nossos filósofos diriam para a a humanidade.


Marie de Vichy-Chamron, Marquesa du Deffand (1679-1780), foi uma tagarela sem rival, e uma escritora de cartas que levou a Sainte-Beuve declarar: “Juntamente com Voltaire, é, na prosa, o estilo mais clássico e mais puro dessa época.” (Livre tradução de:)







POESIA, CARTAS, PROSAPOPEIA

                                                                                        Casinha de Arame - Ana Moraes

MINHA CASA ME GUARDA COMO UM ABRAÇO 
                                                                                Viviane Mosé
                                                                                                                      
 É preciso fritar o arroz bastante
Antes de colocar água fervendo,
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta,
O alho deve fritar no óleo junto com o arroz.

Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas,
Faxina, por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
Que não sobra um canto que não
Tenha sido tocado por minhas mãos.
Depois vou sujando. Com muito gosto,
Deixo peças na sala e louças sujas na pia,
Não na mesma hora, mas um pouco bastante depois
Volto limpando. Assim me faço.
Nos objetos que me acompanham.

Gosto de andar nas ruas e comprar as coisas
Que vão se arrumando em torno de mim,
Eu tenho muitas coisas,
Quero dizer, tenho muitas camadas.
Uma camada de livros, outra de sapatos,
Tem uma camada de plantas. E toalhas de rosto,
Tenho camadas de cosméticos e adereços,
Uma camada de nomes e coisas que vejo,
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta
Quando o meu próprio me falta.

Cadeiras são meus ossos,
Sapatos são meus braços,
Torneiras em meus poros,
Paredes como roupas de inverno,
(Quando toca música em minha casa sai
do umbigo)

Descanso recostado nas paredes de casa
Que me guardam como um abraço,
Me abraço quando me derramo na sala,
E na cozinha. Em geral adormeço no quarto.

Tudo em minha casa tem existência,
Todas as coisas significo. Com os olhos,
Ou com as mãos, Minha casa tem silêncios
Que às vezes ouço, Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda,
Que às vezes ouço, E faço poemas,
Faço poemas dos silêncios que ouço.

Ando com mania de lustra-móveis e ceras líquidas,
Olho um por um nas prateleiras, Sinto a textura e o cheiro,
Espalhando um pouco entre os dedos. Prefiro os de textura fina
E que cheiram a jasmim (gosto mais do aroma floral
mas a palavra jasmim é tão bonita).
Levo todos pra casa e vou espalhando. Primeiro o assoalho,
Considero todos os cantos. Depois os móveis
Com as mãos vou tateando. Um por um.
Em reverência.
Ao que me sustenta quando em desamparo
As casas me sustentam em mim. Por isso as quero em detalhe,
Bem cuidadas e cheias de espaços onde novas coisas se deitam.
Costumo encontrar tesouros escondidos
nas dobras das colchas.
E nas louças sujas na pia. Tenho muitas janelas,
Que é por onde o sol e a chuva me vistam,
O vento aqui também é muito forte,
Às vezes derruba tudo e eu gosto,
Mas aqui também cabem pessoas,
Tem sempre lugar pra pessoas em mim.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

URBE II

Isola D'Elba -Toscana - Itália (Foto: Orietta Borgia)
SÁBADO NA ALDEIA
                                              
                                     Orietta Borgia

Um velho sentado à porta,
como viajante cansado
à espera de uma estação
que não chegará nunca.
Dos olhos fechados
que o tempo gastou,
(ou foi o vento?)
a vida goteja lenta.
Lembranças derretidas:
O tédio pendurado nas janelas.
A conversa das meninas antigas.
Uma sensação parada.
Uma dor polida.
É sábado na aldeia,
na urbe olor de rosas e violas,
talvez, mas sem espera.

VIRTUaliDES

Desejo tudo concreto.
Concreta, concluo.
Sem ressaltar o que nunca alcanço,
incubo, gero, gesto, conduzo, crio.
Sem saber se ajo certo vivo.
Cruzes, credo, que desafio.
Ao acaso, com descaso, descoso a trama.
Que descalabro, de novo líbera.
Lembro-me bem, salitre, arbitre,
o passaredo atrapalho.
É minha virtude.
Me imiscuo enquanto possa e exista.
Paráfrase, exorto palavras raras:
infância, carícia, araras, amor,
jardins, tolerância, trabalho, 
sossego, presença. 
Quando as verdadeiramente fáceis são:
demagogia, prevaricar, resvaladiço, atrofia, abandono,
corromper, fobias e tal, e tal, e tal... 




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

APRESENTANDO MEU AMIGO

     
                      LA FIRA DE BELLCAIRE - Encants Vells - Barcelona
             
         Quando resolvi  criar o P&P convidei o Fábio para me fazer companhia e que me respondeu em "cima da bucha": Com você vou até pro inferno! Mal sabia ele que ao invés de me deixar mais confiante, aumentava a minha responsabilidade frente a ele e à ideia do P&P.
         O Fábio é um homem das Letras. Professor, entusiasta da arte da escrita desperta, não apenas nos alunos, em todos, o prazer pela leitura. Com sua sensibilidade e como se lesse meus pensamentos, assistisse aos meus momentos e advinhasse o que  eu precisasse ouvir/ler, sempre me presenteia com uma poesia, um novo título, uma música, ou  uma letra de música. Esses muitos presentes, não têm preço, têm marca, a que nos tornou parceiros, a marca de nossa amizade.
           Nada de inferno. Quando o Fábio nos traz suas colaborações vamos direto ao paraíso.
       
É assim que ele se apresenta e não poderia ser diferente.


"(...) Multipliquei-me, para me sentir
 Para me sentir, precisei sentir tudo,
 Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
 Despi-me, entreguei-me,
 E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente."(...)"
           

(Fragmento de 'Passagem das horas', de Álvaro de Campos, heterônimo e Fernando Pessoa)

.............

 "(...) Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeirmente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. (...) É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - 

e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, 
e então o castigo é amar um mundo que não é ele. (...)"

          (Fragmento de 'Perdoando Deus', de Clarice Lispector)

.........

Fui morena e magrinha como qualquer polinésia,
e comia mamão, e mirava a flor da goiaba.
E as lagartixas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras,
e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam.

Isso era num lugar de sol e nuvens brancas,
onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas...
O eco, burlão, de pedra em pedra ia saltando,
entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.

Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho,
e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas,
que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas,
pois a vida completa e bela e terna ali já estava.

Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosas!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurrantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes!  - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

("Desenho" de Cecília Meireles)
                                   

..................

Hoje, o presente é seu.

sábado, 20 de novembro de 2010

ENSOLUARADO



Abraços de sol e verão a lua
boaquiabertos,
pasmos,
embasbacados,
os tais senhores espertos,
doutos
e tão letrados.
Cá, do meu lado
quieta,
no canto reto,
angulado,
esguelho o olho esquerdo
e dou direto no seu direito,
esbugalhado
ao ver o céu de minha boca
enluarado,
estrelado.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DE MÚSICA E LIVROS

De música e livros (Foto:Rômulo Fialdini)

Todas as modificações pelas quais passaram as sociedades humanas seriam capazes de modificar as formas pelas quais as pessoas criam e mantêm relações sociais? Quais as implicações disso para o indivíduo e para a sociedade? Os mesmos aspectos das relações sociais no presencial podem ser considerados para o virtual?
Com tantas perguntas, ninguém duvidará do muito a aprender sobre as conversações online e o que representam para as relações sociais.
Deixando de lado tantas interrogações, quem vai falar é o Professor Fernando Nogueira da Costa, que aceitou o convite e nos dá o prazer de colaborar com o Poesia e Prosapopeia sobre internet e as redes sociais em um artigo...
Bem, prefiro deixar as impressões para os leitores.

De gosto apurado para a música e para os livros que coloca na estante, não posso deixar de comentar  que, com a mesma propriedade com que propõe aos alunos um trabalho acadêmico em Microeconomia, me fez entender sobre o tiro que a guerra cambial acertou nos Emergentes (eu procurava pela “bolha imobiliária” nos E.U.A.) e, ainda, sobra sensibilidade quando se indigna contra o preconceito e a discriminação e coloca para tocar Dave Brubeck.
Na companhia de um economista, gente, feito o Fernando, não existe Solidão na Rede.
Passo-lhe a ponta do fio, Professor. Estamos todos atentos.


SOLIDÃO NA REDE 
                                                   
                                       Fernando Nogueira da Costa*

 
Você na rede, sozinho, balançando daqui pra lá, navegar é preciso... Lê o Dominique Wolton, 63 anos [tô novo…]. Ele é sociólogo da comunicação e diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (Paris). Eu, porra nenhuma...
Para ele, “a internet não serve para a constituição da democracia” [?!]. “Só funciona para formar comunidades”, em que todos partilham interesses comuns, “e não sociedades”, onde é preciso conviver com as diferenças. [Meia verdade. Parcialmente verdade. Meia mentira. Mais ou menos. Menos, menos.]
Diz ele: “Faço parte de uma minoria que não é fascinada por ela [a internet. Também, se tivesse menos de 63... Talvez não tivesse medo de experimentar. Clicar e testar. Tentativa e erro. Não estraga...]. Claro, é formidável para a comunicação entre pessoas e grupos que se interessam pela mesma coisa e, do ponto de vista pessoal, é melhor do que o rádio, a TV ou o jornal. Mas, do ponto de vista da coesão social, é uma forma de comunicação muito frágil. A grandeza da imprensa, do rádio e da TV é justamente a de fazer a ligação entre meios sociais que são fundamentalmente diferentes. Nesse sentido, a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário”.
Ele reconhece que “as redes sociais retomam questão social muita antiga, que é a de procurar pessoas, amigos, amor”. Diz que “são progresso técnico, sem dúvida [Se dissesse o contrário, seria uma besta, sem dúvida.], mas a comunicação humana não é algo tão simples [Quem disse que é?!]”.
Por que? “Porque em algum momento será preciso que as pessoas se encontrem fisicamente – e aí reside toda a grandeza e dificuldade da comunicação para o ser humano [Grandioso pacas. Nobre. Real. Pena que em vez em quando me sinto misantropo. Sofro então de aversão a esse contato pessoal com o ser humano. Quem? O vizinho da frente que tanto grita com os filhos quanto late com seus cachorros. A vizinha histérica ao lado que atormenta o marido aos berros. Vamos adiante.]
Então, o entrevistador (Marcos Flamínio Soares da Folha de S. Paulo [PIG!], 09/11/10), lhe pergunta: “a solidão é um risco nessas redes?”
Responde: “Sem dúvida: a ‘solidão interativa’ [Ele é francês! Nada como francês para inventar termos novos para velhas idéias! Adoro eles! Superficiais, simples em conteúdo, complexos em forma, bem diferentes dos americanos pragmáticos e objetivos... e bem mais interessantes, também, né? Só não servem quando temos pressa ou objetivo.]. Podemos passar horas, dias na internet e sermos incapazes de ter uma verdadeira relação humana com quer que seja [Presencial, sim. Virtual, não.]”.
Culmina dizendo que isso tem a ver com o conceito que ele criou: o de “sociedade individualista de massa” [Eu não disse? Os franceses são bons nisso...], “porque na comunicação ocidental procuramos duas coisas inteiramente contraditórias: a liberdade individual – modelo herdado do século 18 [A liberté, egalité, fraternité de lá, porque aqui nós estávamos ainda na escravidão, desigualdade, chibata característicos de um fazendão colonial, onde havia a exploração do homem pelo homem... Com a chegada do capitalismo, inverteu.] – e a igualdade por meio da inserção na sociedade de massa – que é o modelo do socialismo [Inverteu novamente.].
Continua o discurso. “Usamos a internet porque ela é a liberdade individual [bom isso]. Na internet, todo mundo tem o direito de dar sua opinião, mas emitir uma opinião não significa comunicar-se [Não? Comunica, grita, esperneia. Se ninguém liga, pouco importa, desabafou.]. Porque, se a expressão é uma fase da comunicação, a outra é o retorno por parte de um receptor [E os comentários? E o e-mail? E a carta do leitor?] e a negociação que implica – e isso toma tempo! [Menos, menos, não é tanto assim.] Há um fascínio pela rapidez da internet e por sua falta de controle [Isto é verdade]. Mas essa falta de controle é demagógica [Epa, demagógica é a mãe!], porque a democracia não é a ausência de leis, mas a existência de leis utilizadas por todos [Sempre se pode deletar, não? Zapping, muda de canal, de site, de blog, deixe ele falando sozinho.]”.
Para o intelectual francês, “o Google está se tornando a primeira indústria do conhecimento [Que isso?! Imagine...], concentrando de forma gigantesca a informação e o saber [De merda. Quem tiver o mínimo de sensibilidade e direção, saberá que o buraco é mais embaixo.], o que é um perigo. Se um grupo de mídia quisesse concentrar toda a distribuição de informação, alguém diria: ‘Atenção, monopólio!’. Mas não se faz isso em relação à internet, tamanho é o fascínio pela técnica na sociedade atual [Que besteira! É justamente o contrário. A concorrência permite acesso via outros canais!]”.
Última pergunta do entrevistador: “O papel está condenado?” [Papel físico, isto é, jornal, revista, livro...]. O intelectual responde de maneira equivocada, confundindo o meio com o fim: “Ao contrário! Porque internet é rapidez [Instrumento.], livros e jornais são lentidão e legitimidade, informação organizada [Objetivo-meta.]. A abundância de informações não suprime a questão prévia de que educação é formação [Verdade, se não fosse, eu perderia meu emprego de professor...]”.





sexta-feira, 12 de novembro de 2010

URBE

La pepa na sacada (foto: Orietta Borgia)  






...é de manhã*

                              Orietta Borgia  

Uma madrugada de primeiro inverno,
a perfeição pagã de um gato,
uma xícara de café.
Aguardo qualquer coisa,
e nessa sacada de periferia
por um instante, um só,
a vida até parece aceitável.


(em URBE, comunicação pessoal da autora)

PROSAPOPEIA,

ou ouça oito conselhos,
eles são de graça.

Não fosse o texto enviado por uma amiga, cujo respaldo literário e artístico não me permitiria publicá-lo- foram poucas as pessoas que conheci com  tanta simplicidade-, poderíamos atribuir a nomenclatura de auto-ajuda ao conteúdo que vamos postar, para comemorar os dois meses de existência deste blog onde já sabemos,  cabe a poesia, cabe a prosa, prosapopeia e mais um pouco. Cabem quantas mãos escrevam, quantos olhos  o leiam e as muitas emoções, de todos os que passam por aqui.
Orietta Borgia, filósofa, dramaturga, diretora de teatro, roteirista de cinema, tradutora das melhores, mulher-irmã. Dona de um belo par de olhos verdes que não deixam de faiscar, brilhantes, vibrando pela vida nova do dia seguinte, perturbando e se contrapondo à ideia de que o marasmo e a inércia não caberão, nunca, na sua cabeça-alma de artista.
Mais sonoro se fosse lido-ouvido no original (8 trucchi per aumentare la fiduccia in se stesse), sua língua pátria, nos traduziu e, no mínimo, poderá ser divertido. Seguem os oito conselhos, no texto estão destinados às mulheres, porém, quem quiser, faça bom uso.
Nossa colaboradora, diretamente de Roma, traz Prosapopeia, para quem acha que conselhos não se podem vender, mas quem for esperto, os sigam.
Como se fosse pouco, ainda tem La pepa na sacada e um poema inédito.
Para um período de, tão só, dois meses, é uma festança.






Oito dicas para aumentar a confiança em si própria
  
Isabelle Filliozat

                                                         Colaboração de Orietta Borgia

1 Aprendendo a respirar-   Diminuir a tensão.

O que está em jogo: A respiração é um modo excelente para aumentar a confiança em si mesma. Por que? Porque respirando profundamente soltamos todas as tensões do corpo. E nos concentramos sobre nós mesmas, o que corresponde a "tomar as distâncias" do mundo exterior.  "Mais temos consciência da nossa respiração, mais controlamos a nossa vida " sintetiza Isabelle Filliozat.

Como fazer? Faça uma pausa e respire várias vezes por dia! Concentre-se na bacia, é o método por excelência, segundo a psicóloga. Sentada ou em pé, com uma  mão nas costas, inspire inchando o baixo ventre. Para ajudar, imagine uma balão se enchendo por todos os lados. Você deve sentir que está respirando "até pelas mãos”. A cada inspiração você estará se livrando das tensões. Três minutos, duas ou três vezes por dia são suficientes. Relaxa e ainda é melhor, para a saúde, do que todas as outras "pausas" tipo café ou cigarro, que ao contrário, aumentam as tensões.  

A dica a mais:  Durante o exercício de respiração aprenda a "escutar o que acontece dentro de você ". Pergunte: "Como estou me sentindo?". Se você tem uma sensação positiva, o fato de tomar consciência dela irá aumentar o bem estar. Caso contrário, pergunte-se  o porquê. E pense nas soluções para sair deste estado ao em vez de sujeitar-se a ele.

2 Mudar os hábitos: Ousar enfrentar aquilo que não se conhece.

O que está em jogo: No cinema só vou com meu amorzinho, compras só faço no supermercado, faxina obviamente no sábado e almoço de domingo é lasanha. São pequenos hábitos que dão segurança, pontos de referência de que necessitamos todos: servem para nos fazer sentir mais seguras. Mas quando surge um imprevisto (uma proposta de trabalho em  Kuala-Lumpur, um jovem maravilhoso que insiste para sair) ficamos paralisadas de medo. Só porque não estamos acostumadas! Correndo assim o risco de renunciar aos nossos desejos.

Como fazer? Do que tenho vontade hoje?: " É uma pergunta que devemos repetir muitas vezes ", afirma Isabelle Filliozat. Começando devagar: mudamos o cardápio do almoço, depois experimentamos usar salto alto se estamos acostumadas a usar tênis (ou o contrário), vamos conhecer um restaurante indonésio, para ver como é...

A dica a mais: Se há uma frase a ser eliminada o quanto antes do seu vocabulário ela é "só tomo café ". É assim que acaba-se por depender psicologicamente de um produto para definir a si próprio. Dizer "prefiro café do que chá" parece pouca coisa, mas corresponde a afirmar-se como pessoa que faz uma escolha. O mesmo diga-se dos homens, dos carros, dos lugares onde passar as férias e das roupas!

3 Fazer uma lista das minhas qualidades- Tomar consciência dos próprios pontos de força.

O que está em jogo: "A estima que temos de nós mesmas necessita de ser estimulada e reforçada constantemente", lembra Isabelle Filliozat. Por isso, a primeira coisa a fazer,  muitas vezes, é "tomar consciência das próprias qualidades ". Claro que sim, todas nós temos algumas! Mesmo se, às vezes, tentamos a todo custo convencer-nos do contrário...

Como fazer? "Simplesmente colocando preto no branco", aconselha a psicóloga. Faça uma lista das suas 20 qualidades principais (não, não, 20 não são demais). Considere todos os setores: qualidades afetivas, intelectuais, de relação, desportivas, físicas... Se necessário peça conselho aos seus queridos. Vai lhe fazer bem e você vai se afogar em elogios! Peça a eles, por exemplo, quais são as três qualidades que preferem em você ou no relacionamento com você.

A dica a mais: A sua lista está pronta? Ao lado de cada qualidade escreva o que ela permitiu que você fizesse. Por exemplo, sou corajosa = trabalhei por seis meses numa lanchonete para pagar minhas férias; sou bonitinha = na discoteca sempre me oferecem um drinque... Assim você terá a "prova" das suas qualidades. E guarde bem a sua lista, para poder reler quando quiser.

4 Estabelecer objetivos- Aceitar os desafios.

O que está em jogo: Ter um projeto, objetivos, significa incentivo para agir. E entender que querer é poder! "A confiança em si mesma está em correr riscos ", salienta Isabelle Filliozat. Portanto, "estabelecer uma pequena meta diária aumentará rapidamente a sua segurança pessoal ".

Como fazer? Estabeleça objetivos coerentes e atingíveis. Que dependam só de você, não dos outros e fale usando a primeira pessoa singular. Por exemplo: Eleonora, uma colega, convida você ao seu aniversário. Ela é gentil, mas você está apavorada: vocè não conhece ninguém e tem suores frios só  de pensar em passar uma noite como uma pobre coitada abandonada. Ao em vez de recusar com uma desculpa qualquer na qual ninguém irá acreditar ("não posso, meu gato está gripado"), aceite e estabeleça um objetivo como: "vou propor um assunto de conversa para a reunião ", "vou puxar conversa com todas as pessoas que usam óculos", "vou chegar perto de um grupo já formado" etc.

A dica a mais: À medida que forem atingidos os objetivos estabelecidos, aumente a dificuldade e a frequência dos seus pequenos desafios: "vou a uma festa onde não conheço ninguém e vou me divertir assim mesmo", "entro numa loja muito chique e provo todos os vestidos”.

5 Sei dizer não- Saber afirmar os próprios desejos.

O que está em jogo: Dizer não significa ousar, afirmar os próprios desejos e as próprias necessidades. Se dizemos, sempre, sim, principalmente quando pensamos o contrário, o fazemos por medo de não agradar. É um medo que remonta à infância, época durante a qual achávamos que tínhamos que obedecer aos pais para ganhar o amor deles. Opor-se significa entender que os outros podem nos amar mesmo quando não concordamos com eles. E que nos respeitam mais quando nos afirmamos!

Como fazer? Para começar tente mudar seu parecer. Saber mudar de idéia é sinal de inteligência: "Mais você demostra ter mudado de opinião sobre um assunto, mais será estimada e respeitada ". Sem exagerar, claro, não estamos falando de mudar de idéia sem razão. Tente, para começar, mudar de idéia em situações sem consequências. Por exemplo ao fazer compras. Peça 100 gramas de presunto. Não, espere, vou levar salame. Não, pensando bem, melhor presunto. Depois, experimente com algo mais sério, no trabalho, por  exemplo: a idéia que ontem pareceu excelente durante a reunião, depois de refletir a fundo não parece mais tão boa. Você pensou e refletiu nela, afinal é para isso que vocè é paga, não? 

A dica a mais: ofereça a si mesma um dia "no limits" durante o qual você irá fazer tudo o que é mal visto (pelos pais, pela sociedade, pelo namorado). Escolha passar o dia na banheira, comer uma quantidade industrial de sonhos recheados com nutella, gastar um despropósito numa bolsa... O objetivo: "atravessar de novo a fase de oposição da criança " e livrar-se simbolicamente de todas as proibições que interiorizamos.


6 Destaque-se dos outros-  Manifestar as próprias preferências.
O que está em jogo: Vestidos, opiniões, gostos musicais... são outros tantos assuntos sobre os quais tendemos, mais ou menos cientes, a fazer "como os outros " (a nossa família, o nosso contexto social e cultural, a nossa geração). Por medo de sermos julgados e rejeitados pelo nosso grupo. "Mas nunca é tarde demais para tentar expressar a própria personalidade ", explica Isabelle Filliozat. "Quando nos sentimos nós mesmos somos mais confiantes ". Como fazer? Destaque-se dos outros! Todas as ocasiões são boas. No restaurante todos pedem salada? Escolha pizza. Na sua casa sempre se passam férias na praia? Passe na montanha! Ou no deserto, ou no lago, contanto que seja diferente.

A dica a mais: Brinque com a sua imagem! Presenteie-se com uma sessão provador sem comprar nada (deixe o cartão de crédito em casa) e prove todas as roupas que você não costuma usar. Invente um look e... deixe-se surpreender pela mulher do espelho.

7 Desenvolvo minhas capacidades- Acreditar no sucesso.

O que está em jogo: Confiar em si mesma "não significa conseguir fazer tudo, saber tudo em qualquer circunstância " salienta Isabelle Filliozat. É, antes, "pensar de ser capaz de fazer ou aprender a fazer " aquilo que nos pedem ou que desejamos. Em suma, não é importante acreditar que se é competente, mas convencer-se de podemos nos tornar tais, se tivermos a oportunidade.

Como fazer?  "Se não sei fazer, posso aprender". É a frase do dia a ser aprendida de cor para parar de acreditar de ser uma incapaz! E, para desenvolver as próprias capacidades, Isabelle Filliozat aconselha a técnica do "como se". Enfrente as situações que a bloqueiam, comporte-se como se soubesse fazer. Exemplo: o cara mais lindo da festa convida você para dançar. Problema: você e a dança brigaram há muito tempo. E de repente você se arrepende de ter faltado àquelas aulas de ginástica rítmica com a sua melhor amiga. Consequentemente, você recusa gentilmente o convite. A atitude certa: faça como se você soubesse dançar. Atire-se, observe e aprenda. A mesma coisa no escritório: você sua frio só de pensar em usar o Excel? Observe o que faz a sua colega mais experiente e a imite. Se ela consegue, porque você não deveria?

A dica a mais: não ter medo de errar. É errando que se aprende.

8. Abro-me para os outros- Ir ao encontro dos outros.

O que está em jogo: Você espera ter confiança em si mesma para abrir-se aos outros? Tudo errado! Seguindo este princípio vocè vai fechar-se num círculo vicioso: mais você é sozinha, menos confiança você tem em si mesma. "As pessoas que se sentem à vontade não são necessariamente mais inteligentes ou mais cultas que as outras (...). São apenas mais "simpáticas" porque ousam aproximar-se aos outros e fazer amizade", lembra Isabelle Filliozat.
Como fazer? O truque mais simples para ir ao encontro dos outros quando somos um pouco tímidas consiste em dar uma mão (à vizinha cheia de sacolas que volta para casa, à colega atrasada com seu trabalho, à dona de casa durante um jantar). Uma estratégia simples mas eficaz: sem precisar se mostrar muito, vai resultar logo mais simpática. E, principalmente, tente olhar os seus interlocutores nos olhos. "O contato ocular é essencial" para começar a falar com alguém de modo direto e seguro, salienta Isabelle Filliozat.

A dica a mais: Fale pelo menos três vezes por dia com um desconhecido, na fila, no caixa, na rua. Para saber que horas são, pedir uma informação... Não há nada mais fácil para aumentar a confiança em si mesma na vida de todos os dias!