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(lastfm.com.br) |
Muitas foram as datas celebradas em 2010: centenários, aniversários de poetas, de escritores e músicos, mas não marcamos esses acontecimentos, exceto a data que deixamos coincidir com a criação do blog, o aniversário do poeta Ferreira Gullar e o lançamento de seu último livro de poemas - Muitas Vozes, após 11 anos sem publicar. Em seguida, falamos de Patrícia Galvão, por quem tenho admiração particular e não poderia deixar passar em branco. No passado mês de junho deu-se o encerramento do ano das comemorações do centenário de outra “Pimenta”, não menos ardida, a Pagu.
Em seu poema CANAL, Pagu disse:
Sabem vocês o que é um canal?
Apenas um canal?
Hoje, 19 de janeiro, lembramos os 29 anos sem a voz de Elis Regina, que foi considerada a melhor cantora do Brasil.
Apelidada de “Pimentinha”, devido ao seu temperamento “ardido”, era como um singular canal, conforme o poema de Pagu. Abria passagem para novos compositores, músicos, comunicava, conectava, estreitava as distâncias entre nós admiradores e sua voz, nos conduzindo ao som de suas belíssimas interpretações, cantando como ninguém, à música-poesia, a verdadeira Música Popular Brasileira.
Sem sua voz, Elis, o mundo não é o mesmo. Canta pra nós, Elis, mesmo que nada será como ontem, nada será como antes.
NADA SERÁ COMO ANTES
Milton Nascimento/Ronaldo Bastos
Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
A VOZ DO BRASIL
Luis Fernando Veríssimo
(19-01-1983)
A voz continua, viva e límpida.
Continua nos discos e nas fitas. E continua, ainda mais límpida e mais viva, na nossa memória.
O resto é como um desenho feito a lápis, sem fixador, que vai se apagando com o tempo. O que ela fez, o que ela disse, o que disseram dela...
A voz não se apaga. O disco pode arranhar, a fita pode gastar, mas a voz que a gente guarda na memória continua tão nítida que até atrapalha: não podemos ouvir outra cantora sem ouvir, junto, a voz dela, e comparar. É covardia. Ninguém mais canta como ela.
Era uma baixinha complicada.
Uma pimenta, planta miúda e ardente. Tinha de saber como lidar, senão ela queimava. Morreu e se transformou num milagre de botânica.
Hoje é uma flor que a música brasileira usa atrás da orelha.
E o seu nome é sempre-viva.
Ela usava a voz como um instrumento.
Ela era isso, um instrumento de sopro. Como o piston, que também é pequeno e difícil, mas canta como um anjo.
Só que os instrumentos, bem cuidados, duram cem anos.
E ela não se cuidou. Acabou antes do tempo.
Mas a voz continua, viva e límpida.
Continua nos discos e nas fitas. E ainda mais viva e mais límpida na nossa saudade.
"Nada será como antes" e a "A voz do Brasil", são colaborações de Fábio Brito.