quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

NADA SERÁ COMO ONTEM, NADA SERÁ COMO ANTES

                                                             (lastfm.com.br)

                Muitas foram as datas celebradas em 2010: centenários,  aniversários de poetas,  de escritores e músicos, mas não marcamos esses acontecimentos, exceto a data que deixamos coincidir com a criação do blog, o aniversário do poeta Ferreira Gullar e o lançamento de seu último livro de poemas - Muitas Vozes, após 11 anos sem publicar. Em seguida, falamos de Patrícia Galvão, por quem tenho admiração particular e não poderia deixar passar em branco. No passado mês de junho deu-se o encerramento do ano das comemorações do centenário de outra “Pimenta”, não menos ardida, a Pagu.
               Em seu poema CANAL, Pagu disse: 

                                               Sabem vocês o que é um canal?
                                               Apenas um canal?

               Hoje, 19 de janeiro, lembramos os 29 anos sem a voz de Elis Regina, que foi considerada a melhor cantora do Brasil.
               Apelidada de “Pimentinha”, devido ao seu temperamento “ardido”, era como um singular canal, conforme o poema de Pagu. Abria passagem para novos compositores, músicos, comunicava, conectava, estreitava as distâncias entre nós admiradores e sua voz, nos conduzindo ao som de suas belíssimas interpretações, cantando como ninguém, à música-poesia, a verdadeira Música Popular Brasileira.
               Sem sua voz, Elis, o mundo não é o mesmo. Canta pra nós, Elis, mesmo que nada será como ontem, nada será como antes.


NADA SERÁ COMO ANTES

Milton Nascimento/Ronaldo Bastos
Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol



A VOZ DO BRASIL
 
Luis Fernando Veríssimo
                                                                                                                      (19-01-1983)


A voz continua, viva e límpida.
Continua nos discos e nas fitas. E continua, ainda mais límpida e mais viva, na nossa memória.
O resto é como um desenho feito a lápis, sem fixador, que vai se apagando com o tempo. O que ela fez, o que ela disse, o que disseram dela...
A voz não se apaga. O disco pode arranhar, a fita pode gastar, mas a voz que a gente guarda na memória continua tão nítida que até atrapalha: não podemos ouvir outra cantora sem ouvir, junto, a voz dela, e comparar. É covardia. Ninguém mais canta como ela.
Era uma baixinha complicada.
Uma pimenta, planta miúda e ardente. Tinha de saber como lidar, senão ela queimava. Morreu e se transformou num milagre de botânica.
Hoje é uma flor que a música brasileira usa atrás da orelha.
E o seu nome é sempre-viva.
Ela usava a voz como um instrumento.
Ela era isso, um instrumento de sopro. Como o piston, que também é pequeno e difícil, mas canta como um anjo.
Só que os instrumentos, bem cuidados, duram cem anos.
E ela não se cuidou. Acabou antes do tempo.
Mas a voz continua, viva e límpida.
Continua nos discos e nas fitas. E ainda mais viva e mais límpida na nossa saudade. 
   


          "Nada será como antes" e a "A voz do Brasil", são colaborações de Fábio Brito.

                       
                                                                        

sábado, 1 de janeiro de 2011

UM BOM ANO - AJUSTES NO FOCO



TOSTÕES DE VERDE


Aqui me encontro.
Olho pregado na luneta-
janela de olho de quem não quer ver.
Aqui me encontro.
Ajusto o foco no que me vem na veneta.
Aqui me encontro.
Tostões de verde penteiam as ondas.
A verde erva de centos anos.


UM BOM ANO - UM NOVO SOL

                                     Passagem da Lua pelo Sol.


O SOL

                                                                   Antônio Júlio Nastácia

 Ei dor... eu não te escuto mais
 Você não me leva a nada
 Ei medo... eu não te escuto mais
 Você não me leva a nada

 E se quiser saber pra onde eu vou
 Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
 E se quiser saber pra onde eu vou
 Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou



Colaboração de Fábio Brito




UM BOM ANO - UMA NOVA FATIA DO TEMPO

Foto:Orietta Borgia  (Carrossel do Tempo - Paris 2010)



Cortar o Tempo
                                                   
 
                                                                  Carlos Drummond de Andrade
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente"

Colabaoração de Orietta Borgia